Se
o latim não fosse suicidado pela sociedade, aos sábados diríamos que Infância é ausência de fala e como
justificativa apontaríamos as fontes antiquárias de sua etimologia (e a
etimologia de etimologia seria algo como “tocar a origem das palavras”, e se
levássemos em conta registros segundo os quais a humanidade é-como-sempre-foi um
conjunto de seres falantes, bastaria voltarmos às pessoas presentes para que se
reescrevesse toda palavra em sentido vivo). Contudo, se a origem (da palavra)
deu-se morta e se pensar publicamente (entre nós) pode não ser uma reverência
histórica, voltemo-nos: Infância, ou
melhor dizendo:
não-Fala gaga
+ não-fala articulada
+ não-fala em processo
+ conforme a lei, uma situação
peculiar de fala sendo que um dos sentidos da palavra pecúlio diz sobre uma quantia
de dinheiro deixada por alguém que já morreu
+ Estatuto da Criança e do Adolescente
como a legislação de um ser ainda em formação, isto é, um fragmento de ser
+ não-fala compre-batom, Pampers e
embarque nesse carrossel
+ não-fala parâmetro-curricular
quando seria período escolar
+ não-fala tumtátátumtumtá do baile
onde se pode ser o zica
+ não-fala “cê é louco cachoeira,
põe na tela pra mim!”
+ não -fala que balança as pernas
quando uma conversa não faz sentido com a vida viva
+ não-fala medo-da-loira-do-banheiro,
revólver de mentirinha bem como revólver de verdadinha
+ não-fala errante no dicionário
dos cuidados
+ não-fala pipa e acima de tudo: não-fala que virá e todos os outros sentidos
que a palavra ‘infância’ ativa em territórios não conhecidos pelo escrevente, porque
a cada minuto o desconhecido nasce e segundo Jorge Larrosa em seu livro Pedagogia Profana: Dança, Piruetas e Mascaradas:
“Hanna Arendt escreveu: ‘a educação
tem a ver com o nascimento, com o fato de que constantemente nascem seres
humanos’.
O nascimento de uma criança é um
acontecimento que parece completamente trivial e despojado de qualquer
mistério: algo habitual que se submete, sem qualquer dificuldade, à lógica
daquilo que é normal, daquilo que pode ser previsto e antecipado. A extrema
vulnerabilidade do recém-nascido torna absoluto nosso poder, que nele não
encontra nenhuma oposição. Sua extrema simplicidade torna absoluto nosso saber,
que nele não encontra nenhum obstáculo. Podemos, sem nenhuma resistência,
projetar nossos desejos, nossos projetos, nossas expectativas, nossas dúvidas e
nossos fantasmas.” p.186
E ainda, mas agora na voz mesma de
Larrosa:
“O nascimento não é senão um princípio
de um processo em que a criança, que começa a estar no mundo e que começa a ser
um de nós, será introduzida no mundo e se converterá em um de nós”. P.187
Por fim, o trecho que é o bolo da
cereja. Este que escreve pede ao legente que se atente ao que existe de
pergunta no que será dito e que experimente rememorar as discussões televisas
sobre infância e violência em sua maioridade:
“Diz Arendt: ‘A necessidade do
terror nasce do medo de que, com o nascimento de cada ser humano, um novo
começo se eleve e faça ouvir sua voz, no mundo’. Se voltarmos ao nascimento de
Belém como modelo de todo nascimento, o terror estaria encarnado no
infanticídio de Herodes. Herodes quer controlar o futuro e tem medo de que o
nascimento de algo novo ponha em perigo a continuidade do seu mundo. Daí o ato totalitário por excelência: matar
as crianças, para eliminar do mundo a novidade que poderia ameaçá-lo (grifo
do tal escrevente)”. p. 190
+1 infinito
Isso
deveria ser um início de conversa e como tal algo mais palatável, aberto e
cuidadosamente partilhado, conforme ocorre com os inícios quando marcados pela
hospitalidade. Contudo, o/a legente bem o vê, já nessas poucas linhas o que
temos configura uma fala retalhada, entrecortada, inarticulada, um tanto
infantil. Acontece que o escrevente disso-aqui vive(u) muito afetado pelo lado
de lá do Poema em Linha Reta, parece ter se afeiçoado com a sinuosa geografia
tomada pelos destinados à porrada, de modo que torna-se necessário prevenir a legência
e nomear o inarticulado como o território comum e provisório para este encontro
mais denúncia-que-texto. Se posso prever algo sobre o escrevente, digo que
entraremos em uma situação peculiar de
nascimento (+ 1 ) .
Manter a Porta Aberta
O
inarticulado, ou melhor, esse algo que é mais uma arapuca que falta de edifício
de pensamento, assim aparece para ele (o escrevente): o que
não acena ao público sustenta a cortina. O inarticulado é gesto obsceno e
acena atrás de cortinas fechadas, barrando ou retalhando de modo ‘para-pouquinhos’
a luz que entra e a que sai na coxia. “Para-pouquinhos” porque o inarticulado é
força que atravessa solo e subsolo (sótão, sala de visita e, de modo
privilegiado, o porão dos corpos/e/moradas).
“Para-pouquinhos” porque, quando
se fala da vida (a de cada um), aquilo que é Total e Para Todos pode ser algo
terrífico conforme alertou Hanna Arendt lembremos que infância, tal como
indicia o estatuto, é período de um
certo parte por parte, graduação de ser no de “pouco em pouco a
galinha enche o palco”). “Para- pouquinhos”, porque a arapuca é sempre o gesto
de alguém que apela por de trás da cena mas em face de outro alguém, uma
espécie de alçapão que convoca um misterioso frente-a-frente.
Por hora, e para tentar dizer de
outro modo, o escrevente diz que a fala não-articulada, essa ‘não-fala-ainda’
pela qual se caracteriza a in-fância, sussurra assegurada pelo algo singular de
cada corpo, um isso que cobre a
descoberta terrestre até o ponto do encontro com o rosto do outro. O que há de
espantoso no inarticulado corpo/terreno in-fantil é justamente esse algo anterior que carrega experiências
de tradição e tradução do vivido atrás das cortinas. O que o escrevente chama
por ‘inarticulado’ poderia ser apelidado como ‘nascimento’, ‘infância’ ou uma
espécie de analogia através da qual a todo momento a terra pudesse ser invadida
por naves carregadas de algo totalmente perigoso (algo peculiar: em latim Outro se diz Alienus, faltando pouco
para formar o pânico pelos alienígenas).
Slogan publicitário ou a propaganda do nunca-filme “Os limites dessa
história”:
Articulando: Criança 1 muito agitada entra na biblioteca e, sem razão que a justifique, entrega um soco no olho da Criança 2 que estava quieta e passava os olhos em Percy Jackson e os Olimpianos de R$ 59,90. Criança 1 frequenta a fábrica todos os dias e conhece o nome de todos os operários, está sempre presente nos ateliês, cochicha segredos com outras crianças de modo que parece ter amigos. Criança 2 também. Os R$ 59,90 importa menos nesse caso, porque o espaço é público e o livro permanece de pergunta aberta: quem escreve o soco?
Diz o escrevente que, se pudéssemos
acompanhar toda a cena, veríamos a criança
1 tentando se justificar e que a criança
2, chorando ou não, gesticularia qualquer reação moral horas antes de outro
soco ser inaugurado por crianças de outros números. Depois, surgiriam outras
inaugurações sem soco, mas igualmente inarticuladas, talvez vertidas à tinta de
spray, ou impulsionadas pelo secreto de brincar de pique-esconde enquanto o
chamado-professor procura um meandro de escuta para o que existe de terror em
“Gato Preto”. Diz (o que escreve) que algo sem nome inevitavelmente surgiria. Então, novamente inédita, a biblioteca
voltaria a balançar em questões de convivência e, em consequência de qualquer
gesto, um livro cairia da estante e alguém leria a seguinte frase em uma das
páginas escancaradas pela queda: “quem escreve o soco importa tanto quanto
saber quem o acompanharia até o limite de sua misteriosa origem atrás das
cortinas (quanta obscenidade! *) - fosse a coxia fome, dislexia, excesso de
saúde traduzida na vontade de impacto ou qualquer outra contraluz do mundo.”
*A Promotoria defende: a Grécia
sustenta que a etimologia da palavra pedagogia diz sobre paidós = criança, e agogé = condução. Então, o pedagogo: aquele que visita o caminho com a criança.
Bula Introdutória
O escrevente tem a quase-certeza de
que um dedicado animal pedagógico deve ler muito bem o apelidado Paul Celan (poeta
que viveu a pergunta sempre aberta onde nenhum nome lhe é possível: triste
infante), de modo que para cumprir o destino daquele que deve “acompanhar a criança”
se faz necessário ouvir o que diz o poema: “a
marca de uma mordida nalgum lugar/ também a isso terás de combater/a
partir daqui”. Diante isso, para matar de fome ou dar férias ao animal
pedagógico*, Celan parece exigir escatologia e rosto ao que aqui se nomeia
mais-denúncia-que-texto.
* apelido doado a esta figura que vive restrita ao pior do
que se entende por período escolar, esse bicho-aí - algo indiscernível entre
professor-instituído e aluno-legislado - que duas vezes por semana respira
alguma lacuna da grade curricular para adentrar espaços de ateliê.
Nota sobre a inexperiência
1) Os nomes e o que pode configurar um cenário
Três duplas de irmãos: Ingrid com a
Isabela, Rodrigo com a Anny, Samuel com o Matheus. Mas também a soma de alguns
tantos vizinhos numa outra ordem de familiaridade borrando aquilo que se experimentava
através do ateliê de Leitura e Escrita Criativa. Que se diga, se viver é
assumir a meia dúzia de questões que erigem o organismo, neste semestre foi de
forma inevitável que passamos a habitar o Capão Redondo porque acolhemos suas
perguntas.
Ingrid costuma armazenar um corpo de pólvora
toda manhã, mas não convida a mãe para a saída pedagógica, motivo: “ela é muito
barraqueira, pissô!”. Matheus demonstra hábitos alfabetizados, convive com
textos de forma autônoma, declara que adora “bafão, confusão e briga”,
frequenta espaços administrativos da Fábrica e negocia com coerência sua voz de
comando. Fundamental dizer que Matheus perdeu o pai há duas semanas. Samuel
(vivendo a falta do mesmo pai que Matheus) e Isabela não são irmãos, mas de
forma muito parecida deliram os objetos com histórias de falar que não pulam
para o papel nem que a vaca tussa. Anny tem proximidade com o alfabeto e
conversa bem com o livro, mas não os leva para casa. Rodrigo delira bem as
materialidades, tem um corpo para pulos, piruetas, lutinhas variadas e gosta de
usar a voz com muita estridência.
Os Vizinhos: Nayara, irmã do
Nicolas (adolescente que já não frequenta o ateliê da tarde porque construiu uma
linha de fuga entre a biblioteca, o ateliê de circo e o círculo de amizade com
os apelidados “quatro cavalheiros” - já somam 7). Voltemos, a Nayara, Giovanna
e o Diego (quase primos), Guilherme e a leitura livre vinda do que experimentou
no ateliê de teatro em semestres anteriores, Nicoly semi-leitora e sua
proximidade com a vontade de brincar de teatro e, ainda, o recém chegado Isaque
com seu salutar nomadismo nos ensinando a circular a fábrica dentro e
fora.
2) O que se Leu
- Trecho inicial de “Pequeno
Príncipe” escrito pelo Saint-Exupéry e o que nomeamos como “exercício para não
Deixar de Ver Jiboias”.
Instruções:
uma criança vendada é posicionada do lado de fora do ateliê e próxima ao vidro,
todas as outras ficam no interior do ateliê e devem transpor para o vidro as
ilustrações das histórias que são narradas pelas crianças que está fora.
Delírio:
criar palavra de desvios, escrever-por-sobre. “ todas as coisas perdem as
vírgulas que as separam” Wally Salomão em Poema Jet-Lagged
- Manoel de barros no poema “Homem
de Lata” transvalorado em fantasma capaz de assombrar a fábrica;
Instruções:
dividir o poema conforme as estrofes. Apresentar cada uma delas como uma pista
para a descoberta da real localização do Homem de Lata. Toda imagem poética
presente no poema deve ser traduzida em um espaço ou situação “concreta”. Construir
uma estátua para o Homem de Lata.
Delírio:
criar História de desvios; desfazer o ofício da história universal caber nas
mentirinhas que inventam crianças e nascimentos. Todo mundo tem uma américa por
descobrir.
- Telejornal e Hospital Bittencourt
Descrição:
diante da distância política frente ao livro e ao que se chama conteúdo escrito
da literatura, as crianças potencializaram espaços de trocas e brincadeiras
como linhas de fugas daquilo que o pretenso educador apresentou como escola de grafar.
Uma dessas linhas (outra grafia?) instaurou um ambiente hospitalar no qual cada
criança atuava uma força entre pacientes, médicos, jornalistas, recepcionistas
(fazendo uso de referências diretas às recepcionistas da Fábrica de Cultura),
bêbados feridos e professor.
Delírio:
pela história universal dos retalhos, desempregar Hegel e Datena.
- escrevemos a “Hora do Banquete”
em alternativa ao que se chama Lanche para aumentar o que a alimentação e a
fome.
Descrição:
entre irmãos e vizinhos o educador escreveu a necessidade de diferenciar o
espaço comum daquele outro presente no repertório íntimo de cada um. Sonhamos
um rascunho de praça (ou a tal mesa
nomeada por Hanna Arendt como o círculo político por excelência) ou algum
arremedo em direção à comunidade. Ao longo do semestre as crianças tiveram a
oportunidade de escolher entre “lanche” e “banquete” e o vivemos foram três ou quatro ocasiões deste último. A
comida não muda de um nome ao outro, caixinha de suco, pão e uma fruta para os
dois casos, contudo, nas vezes que escolhemos pelo o Banquete o compromisso de todo grupo
caminha pela construção de uma mesa.
Que
se diga: ler o círculo, mesmo que apenas 4 vezes em 6 meses, foi nosso esforço
pela modulação da estridência em cada voz – para quem sabe alcançarmos outros
tipos de gritos, em variadas escalas.
Delírio:
desfazer a função “Simpsons” de todas as famílias; criar espaço de conversa.
-
Caixa de Histórias
Descrição: Uma caixa de papelão,
canos de conduíte e resto de bambolês e tintas variadas e deram estrutura à missão de
hospedar alguém dentro-caixa para que os de fora pudessem narrar histórias como
oferta. Grupos de 4 ou 5 crianças
tematizaram cada caixa conforme a anatomia de cada poética. Durante a mostra, as
duas das caixas que sobreviveram a ausência da mesa-Arendt foram à feira livre
na Av. Estrada de Itapecerica, fato que aponta caminhos para o próximo
semestre.
Delírio: contornar. Vestir a
palavra. Escutar a voz antes do rosto.
3) O que se escreve ou as perguntas que
surgiram
É certo que um dia o tal escrevente
falará sobre a infância que atravessa cada um dos nomes referidos lá no início
dessa nota, mas não sem antes propor um close
pois, levando em conta o
espetáculo (já quarentão e tão saudosista daquele Maio), toda criação artística
é um país de cortes cinematográficos:
“Abordar o Outro no discurso é
acolher sua expressão em que ele ultrapassa a todo instante a ideia que se
poderia ter dele. É então receber do outro para além da capacidade do eu...”
LEVINAS,E. Totalidade e Infinito. p.66.
Antes de lastrear a citação com o
fast-food da historicidade, pergunta-se: e se essa mais-denúncia-que-texto
falhar em mesa pública e só comunicar aos já iniciados nesse tipo de língua,
ativando algo similar ao que causa uma criança ansiosa ao dizer de um filme que
gostou? E se todo o esforço contido nessa mais-denúncia-que-texto se falar
apenas daquilo que não tem traço e nem sinaliza expressão alguma entre a
possível sobrancelha decaída do menino de dez anos e a ponta amarrotada do
nariz de 63, adiantaria apelar ao fato de que raras vezes conhecemos quem não tivesse
levado porrada?
E se, para preencher uma coisa do
que se encontra vivo, for preciso decompor um dicionário, escutar com a nuca e
concordar com o não-declarado-humanismo-da-janela, aquele segundo o qual o
humano equivale a ser um humor construtor de casa sendo ele próprio mais janela
que casa, deveríamos sucumbir ao indesejado animal pedagógico para ter enfim o
que mostrar?
Úlltimo Fragmento sobre a Infância e
criação de vazios e abertos:
“A cultura e a espiritualidade
genuínas são aquelas que não esquecem esta originária vocação infantil da
linguagem humana, enquanto que uma cultura degradada se caracteriza por tentar
imitar um gérmen natural para transmitir valores imortais e codificados, pelos
quais a não-latência neoténica se volta a fechar numa traição específica. Na
verdade, se há alguma coisa que distinga a tradição humana do gérmen, é o facto
de ela querer salvar, não apenas aquilo que pode ser salvo ( as características
essenciais da espécie), mas também aquilo que nunca poderá ser salvo, que está,
assim, perdido para sempre, ou melhor, nunca foi possuído como uma propriedade
específica, mas que, precisamente por esta razão, é inesquecível: o ser, a
não-latência do soma infantil, ao
qual apenas o mundo, apenas a linguagem, estão adaptados. Aquilo que a ideia e
a essência querem salvar é o fenómeno, o irrepetível que já foi, e a intenção
mais própria do logos não é a conservação da espécie, mas
a ressureição da carne.” p.93-94.
AGAMBEN,G. A Ideia da Prosa – Lisboa: Cotovia, 1999.
Referências :
Artigo : A descoberta da Infância
autores: Luíza Petry, Gabriela Resmini, Marina Franco e Maíra Meimes
em http://www.ufrgs.br/e-psico/subjetivacao/tempo/infancia-texto.html
no dia 14/06/2015 às 17h30.
“Como nos mostrou Michel Foucault, talvez ainda mais do que inventar uma nova ordem, o que aconteceu foi o aparecimento de uma nova maneira de pensar a ordem, de pensar o que significa ordenar e como deve se dar a ordenação das coisas. Isso significa que a grande novidade não foi ordenar de outra maneira o pensamento, mas pensar de outra maneira a ordenação. Se, ao longo da Idade Média, ordenar era estabelecer hierarquias por analogias, já pelo fim do século XV começou um novo entendimento sobre a ordenação. Esse novo entendimento se cristalizou no século seguinte, quando ordenar passou a ser não mais uma questão no âmbito das analogias, mas no âmbito das diferenças. E para estabelecer as diferenças, era preciso, antes de mais nada, medir; e só a partir das medidas se pode estabelecer as séries de diferenças, as categorias que agrupam aquilo que é igual e separam aquilo que é diferente. Se, antes, as analogias se davam num jogo infinito, agora o ordenamento passa a depender do prévio estabelecimento de categorias finitas, bem demarcadas e distintas entre si, que se passou a designar por disciplinas. Enquanto que a ordem medieval era pensada como aberta e infinita e, portanto, incerta ou aproximada, a ordem moderna passa a ser pensada como fechada e finita e, portanto, certa e exata. Isso não quer dizer que a nova ordem passou a ser certa e exata, mas sim que ela passou a ser pensada como certa e exata. E se, até então, para colocar em ordem o que mais importava era captar as afinidades, agora o que vai interessar é marcar as distinções, os afastamentos” - Algumas raízes da pedagogia moderna – Alfredo Veiga-Neto
in: http://www.michelfoucault.com.br/files/Algumas%20Ra%C3%ADzes%20da%20Pedagogia%20Moderna.pdf , acessado 14/06/2015
autores: Luíza Petry, Gabriela Resmini, Marina Franco e Maíra Meimes
em http://www.ufrgs.br/e-psico/subjetivacao/tempo/infancia-texto.html
no dia 14/06/2015 às 17h30.
“Como nos mostrou Michel Foucault, talvez ainda mais do que inventar uma nova ordem, o que aconteceu foi o aparecimento de uma nova maneira de pensar a ordem, de pensar o que significa ordenar e como deve se dar a ordenação das coisas. Isso significa que a grande novidade não foi ordenar de outra maneira o pensamento, mas pensar de outra maneira a ordenação. Se, ao longo da Idade Média, ordenar era estabelecer hierarquias por analogias, já pelo fim do século XV começou um novo entendimento sobre a ordenação. Esse novo entendimento se cristalizou no século seguinte, quando ordenar passou a ser não mais uma questão no âmbito das analogias, mas no âmbito das diferenças. E para estabelecer as diferenças, era preciso, antes de mais nada, medir; e só a partir das medidas se pode estabelecer as séries de diferenças, as categorias que agrupam aquilo que é igual e separam aquilo que é diferente. Se, antes, as analogias se davam num jogo infinito, agora o ordenamento passa a depender do prévio estabelecimento de categorias finitas, bem demarcadas e distintas entre si, que se passou a designar por disciplinas. Enquanto que a ordem medieval era pensada como aberta e infinita e, portanto, incerta ou aproximada, a ordem moderna passa a ser pensada como fechada e finita e, portanto, certa e exata. Isso não quer dizer que a nova ordem passou a ser certa e exata, mas sim que ela passou a ser pensada como certa e exata. E se, até então, para colocar em ordem o que mais importava era captar as afinidades, agora o que vai interessar é marcar as distinções, os afastamentos” - Algumas raízes da pedagogia moderna – Alfredo Veiga-Neto
in: http://www.michelfoucault.com.br/files/Algumas%20Ra%C3%ADzes%20da%20Pedagogia%20Moderna.pdf , acessado 14/06/2015