Linhame

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

meu amigo paulo me fez perguntas : Entrevista com Luis Felipe Lucena por Paulo Ortiz

porque falei para responder ao meu amigo

link: http://poenocine.blogspot.com.br/2013/11/entrevista-com-luis-felipe-lucena.html

Entrevista com Luis Felipe Lucena

ENTREVISTA CI: PA — Luis Felipe Lucena I) Aqui não cabe 1. Luis Felipe Lucena é pseudônimo? Nome de batismo e um duplo do meu pai, escondo o Junior para levar o pai adiante. Há um tempo eu inventava pseudônimos com medo de desaparecer no nome: mas por dois anos eu mergulhei no mar durante a noite e acho que é por lá. 2. Há alguma diferença entre você, pessoa física, e o autor de seus livros, pessoa fictícia? Se posso dizer que escrevo, é apenas na finalidade de me colocar em melhor condição para onde. Quando Eu falo, digo que tenho três cachorros em casa, não é menos pobre que isso a imagem da posse. Totalmente exposto ao tempo, emagreço na tristeza, o texto não, vive sempre em horação. Emagreço quando vivo a única diferença. II) Distraídos venceremos 3. Voltemos ao seu passado – onde você nasceu, como foi a sua infância, importância dos pais na sua visão literária. Vivo meus primeiros nove anos em Catanduva – SP. Nasço em cada um deles, mas somente diante da distância que me coloca aqui. São sempre nove anos de um círculo com tempestade e queimada no canavial: uma subjetividade na fuligem; um vizinho que desenterrava carcaça de cachorro no número de sete para sete irmãos e que era o lobisomem. Rita Margarete Bizarro-Amãe e Luis Felipe de Lucena-Opai sobrevivem ao mesmo exílio com a mesma quantidade de amor, neles a chave de todos os livros que amei: uma linha que inutiliza qualquer gramática para a palavra perdão: quem-o-início? III) Os pregos na erva 4. Que poema ou livro lhe arrebatou tanto para que se tornasse poeta? Quais são os seus autores modelo no mundo da literatura? Eu e meu irmão José Felipe de Lucena Netto brincávamos de invadir casas em construção, era comum poder andar pelo quintal da casa e não conseguir entrar nos cômodos, sensação de ter caído em uma armadilha que nos havia trancado para o aberto e que o dono apareceria a qualquer momento: isso exatamente como a voz primeira. Possivelmente estou no quintal do primeiro poema, pode ser que a qualquer momento o dono apareça e me fale “Mundo literário”, daí terei de pular Fora: mas talvez o Poema em Linha Reta pela proximidade geográfica. 5. Diga como foi sua primeira experiência de criação poética. Quando tinha sete anos, descobri que sabia ler: a professora leu um livro em voz alta e eu gostei tanto da história ao ponto de tê-la decorado integralmente. No final da aula, eu peguei o mesmo livro e comecei a falar a história decorada em cima das páginas e, como eu já juntava sílabas, fui reconhecendo o Texto e disse para um amigo “Eu sei ler” e comecei a contar o livro para ele, com as páginas abertas. Lá no fundo eu sentia que estava fazendo um truque. IV) A catedral dos meus sonhos 6. Indo alguns passos atrás no tempo, você já participou de outro grupo ou teve alguns amigos, com os quais trocava experiências poéticas? A primeira vez que o texto ganhou nome de poesia foi através do grupo Poenocine, do qual fiz parte e o Paulo Ortiz era o coordenador. Nossos encontros eram gigantes, uma vez ficamos quase doze horas lendo o Lance de Dados em grupo. O Poenocine foi um espaço de sobrevivência e amizade muito importante na minha vida. 7. Se a resposta for sim: como se conheceram? Houve influência mútua? De que maneira ela alterou sua maneira de ver e fazer literatura? Eu frequentava a Associação Casa de Cultura do Sapopemba e o Paulo Ortiz era professor de literatura em um dos projetos desse espaço, lá nos conhecemos. Certa vez, conversando com o Paulo, eu e outros amigos demonstramos interesse por uma coisa que chamávamos de “poesia marginal”, então ele sugeriu que estudássemos os poetas “Clássicos da Poesia Marginal”. Os encontros foram ricos, e juntos fomos adentrando recursos e poéticas variadas. Da leitura rigorosa, o grupo explodiu em criação, daí em diante a vida de todos naquele encontro era literatura, no meu caso para o bem e para o mal. Talvez ainda hoje a linguagem seja a Outra de toda relação real de amor que eu viva, esse é o mal, mas tenho buscado ficar mais atento juntando meus pés aos pés dos passageiros de qualquer desconhecido no metrô, discretamente. V) Na estrada 8. Como virou típico perguntarmos isso aos entrevistados, a fim de que vislumbrássemos uma rede de contatos e possíveis coincidências, você tem algum contato com nossos entrevistados anteriores (Pipol, Claudio Willer, Márcio Simões, Marco Aqueiva, Chiu Yi Chih, Celso de Alencar, Natália Barros, Antonio Ventura, Edson de Bueno Camargo, Eduardo Lacerda, José Geraldo Neres, Lelia Maria Romero e Angela Castelo Branco)? Como se deu tal contato? E nos revele como se dá a relação entre os poetas nos dias de hoje. Frequentei algumas oficinas do Cláudio Willer. Fizemos (Poenocine) uma linda viagem para Bragança Paulista graças ao gentil convite do Marcos Aqueiva, mesmo eu, que não conhecesse sua poesia, saberia que é um poeta graças a sua alta capacidade de hospedar. Angela Castelo Branco é alguém que eu procuro quando a vida fica grave demais, vizinha de sempre. VI) Quintal 9. Você está metido em algum novo projeto, ainda desconhecido de grande parte do público? Se sim, fale um pouco dele e, depois, revele se há alguma outra atividade que você cultiva que a gente não sabia e adoraria descobrir. Faço parte da Editora Lavanderia, juntamente com a Angela Castelo Branco e mais outros amigos (Marcella Camillo, Giuliano Tierno, Flávio Camargo Tony Willian e Mariana Louver Mendes). Estamos construindo o primeiro trabalho da editora, será o livro Quintal de Luis Felipe Lucena, em breve mais desse encontro surgirá. 10. Quais revistas literárias você acompanha ultimamente, seja da Internet ou impressas? Teria algumas sugestões para nós? Vê diferenças entre elas e as mais antigas? Posso dizer que hoje a literatura não me interessa. Realmente não leio revistas e crítica literária. Revista é um nome da polícia, o Guarda-Risco de, ao abrir a primeira página dessa gramática, se perceber como aqueles personagens de desenho animado que só conseguem andar no abismo enquanto não percebem a ausência do chão (Agambem é um poeta). Gosto de ler coisas como testemunhos desses personagens do ar. Encontro isso aqui: http://teatrofantasma.blogspot.com.br/ do Marcelo Ariel. http://literalmentepastore.blogspot.com.br/ do Bruno Pastore http://corpoempalavras.blogspot.com.br/ do Giuliano Tierno. Realmente não leio muito sobre literatura. Demiti a história, abrir qualquer livro de forma aleatória e escolher um parágrafo como interlocutor da qualquer pergunta íntima amplia o texto. 11. Como você vê a relação entre Universidade e poesia? Como anda a crítica literária dos portões acadêmicos para dentro? E para fora, algum sinal de vida? A crítica é um lugar permanecente (máquina de “Nem... Nem”, tem disso no Da Clausura do fora ao fora da flausura: loucura e desrazão Peter P.Pelbart), filhote da eternidade (permanente) com a invenção da primeira cerca bíblica: uma dívida medo do tombo-adão-eva. A diferença é que entendo a queda-homem pelo ventre e a umidade-fêmea da vida, mas por quem cai a crítica? Uma brincadeira de círculo: a universidade fecha o círculo para manter de forma conciliada a zona de toque selvagem, um mero contorno de língua... uma gramática. Duas bolhas de sabão voando juntas e irmanadas por um milímetro eterno de mesmo, um nó(s): poesia e universidade atestam a queda e temem a separação profunda porque a invenção, nome da vida, nos coloca demasiados portão para dentro. Fato é que conheço poucas formas de vida: como será o dentro de uma bolha de sabão sem contorno? VII) A face de deus 12. Poesia existe fora da página em branco? O quanto ela influenciou o seu cotidiano, seu olhar diante do mundo ao redor? A poesia é um polvo do dentro (o animal de poder do Ocidente) que invalida a visão porque engloba todos os rostos, o poema é sempre uma metáfora da velocidade da luz, somos da idade da Imagem. Mas existem outras velocidades realmente livres e imunes, demitindo a divisão de importância das coisas por um sonho ético de toque. A poesia é como o Truque Primeiro que me oficializou como um leitor (aquele já mencionado em outra questão), uma página sempre sida antes. Na minha experiência cotidiana, às vezes o desespero me faz rezar profundamente e só então vejo o mundo; diante disso, percebo que o ‘truque primeiro’ me desapareceu com o mundo lá nos meus sete anos. Mas existe deus e nele a figura de todos os amigos (sincrônicos ou anacrônicos) numa ligação interessada me trazendo a cada dia um pedaço de chão (mundo), isso ajuda muito. Se puder, esqueça a poesia. 13. Como o poema nasce em você? Conte como é seu processo criativo. Vou convivendo com uma visita (íntima ou estrangeira), até que chega o ponto em que ela me convida para sair de casa, então caminho até a calçada, às vezes vou até a esquina e, quando começo a me desintegrar, vou sorrateiramente gravando os pedacinhos para juntar depois, sempre volto para casa com uma orelha no lugar errado. Não escrevo poema, não sou poeta, não sou escritor, escrevo nesse gesto de vileza de quem finge (vontade de coragem) que pode acompanhar a visita no até-onde do seu desejo. 14. Acha que o poema é um reflexo de sua personalidade? Você pensa como seus poemas? Escrevo sempre na pretensão de marcar o caminho de volta para casa, mas com certeza qualquer que seja “O Poema” não me endereça. Fico o tempo todo tentando achar um espaço nas palavras e, quando acontece, escrevo uma notícia disso, sou um jornalista. 15. Quem é maior, você ou seu poema? Quem cresceu ao longo do tempo? Quanto mais escrevo, mais vergonha sinto. A distância cresceu. É como o nome Deus, bem maior que o nome, a cada pronúncia o nome falha, venho pensando que só existe reza sem nome. 16. Já se lembrou de algum verso num momento inusitado? E já se surpreendeu com algum poema seu, fosse uma nova descoberta feita ou uma curiosa profecia? Inusitado não. Mas profecia sim, o texto sempre vem me cobrar na luz do dia. Se por noites escrevi s-o-l-i-d-ã-o---f-e-s-t-i-v-a, nesses dias ele vem me perguntando se estou pronto, e meus joelhos dobram fácil. 17. O que te faz gostar de um poema? Como sabemos quando um poema é bom e quando é ruim? Quando o tempo perde para a Horação, porque esse é o lugar do Texto que celebra a hospedagem: uma porta aberta sempre aberta em um Outro do tempo e da eternidade. Um Texto é bom exatamente como uma pessoa se faz boa: quando socorre e celebra o próximo. 18. Diga qual autor você sempre tem vontade de reler e aquele que só quer se esquecer de um dia ter lido. Tudo que eu não quero na vida é esquecer. Acredito que nosso aparato orgânico jamais leria algo que não houvesse compatibilidade, porque ler é uma ecologia, e um organismo procura exatamente aquilo que precisa para viver. Negar um texto lido é escolher uma parte do corpo para amputar, ignorando o alimento oferecido: o princípio da paz é não barrar a entrada, então todas as palavras servem. Gosto muito de visitar os textos do filósofo Emmanuel Levinas porque me ajuda a viver melhor. 19. Revele para nós um verso seu que você adora e outro, mera tentativa, que não saiu lá essas coisas... Gosto da frase “Não deves correr pois és para onde”, sempre lembro dela como um chamado que busca me melhorar. Não penso na beleza do texto, vou prestando contas. 20. Tua forma poética transpassa o registro filosófico, mesclado por um humor corrosivo, numa distorção sintática com piruetas espontâneas. Como você vê a poesia em registros outros, que não a estrofe, o ritmo tradicional etc. etc.? Quem escreve está sempre de frente para o Polvo-do-Dentro (o animal de poder do Ocidente), se o assunto é não ser engolido, é preciso olhar a própria marca como uma janela para fora e falar a partir dela, um sempre lugar de passagem não pode ser roubado por braço algum: a primeira vez que me dei conta dessa necessidade foi quando li Instabilidade Perpétua de Juliano Garcia Pessanha, desde lá fui procurando escutar com amizade o furo que funda minha gramática íntima. Aos poucos notei que a palavra ‘registro’ é um dos braços do Polvo, uma circunscrição temporal: uma metáfora da queda e que nesse horizonte meu terno era velho, muito velho. Emudeci todo o Tempo que quis ganhar do polvo. Agora escrevo para os barcos, porque sei da existência deles, setenta vezes sete oceanos para onde. 21. Em que direção sua história poética aponta hoje? Preparando algum novo livro? Teria um poema inédito para os leitores mais curiosos? Escrevendo para onde. A gravidade e A Graça de Simone Weil é o que estou lendo nos últimos dias, ela me ensina sobre solidão e vem me tornando um poema inédito. 22. Você acha os poetas uns chatos? Eles querem ser difíceis demais? Como vê o meio literário atualmente? Não acompanho muito isso, mas poetas são sempre engraçados. 23. Que poesia é possível hoje? Toda poesia é válida? A poesia é vale.

domingo, 24 de novembro de 2013

Equivocacionário- escuta de BALSO TOMBO - GRAMITIKAINDA




balso: Náutica Nó que se arma num cabo para içar objetos ou um homem que vá trabalhar no mastro ou no costado.